Guia Para Famílias

Provavelmente está informado sobre como os jogos de azar podem prejudicar a família, e como esta pode ser atingida de várias formas. O vício do jogo pode esconder-se durante muito tempo. Por isso, muitas famílias ficam chocadas quando têm conhecimento da quantidade de dinheiro perdido.

Algumas relações não chegam a sobreviver ao vício do jogo. Outras famílias lutam juntas contra as dificuldades e tornam-se mais fortes. É possível restabelecer-se do vício do jogo, embora seja preciso tempo e paciência para ultrapassar os problemas.

Não tome decisões importantes acerca das relações pessoais enquanto estiver sob pressão ou instabilidade. Analise a situação em pormenor e tome em consideração os sentimentos e as necessidades de toda a família. O aconselhamento pode ajudar a explorar opções e a decidir o que funciona melhor para si e para a sua família.

O problema mais frequente é a perda de dinheiro. Subitamente podem perder-se poupanças, imóveis e artigos pessoais. Este tipo de crise gera desconfiança e faz com que a família se sinta receosa, irritada e traída, entre vários outros impactos.

Indícios de ordem monetária:

> Está a faltar dinheiro em casa ou nas contas bancárias;

> O elemento da família mantém uma atitude reservada e de mau humor acerca do dinheiro. O indivíduo muda a sua atitude e esconde os extratos bancários, cartões de crédito e outras informações financeiras e fiscais;

> O indivíduo obtém dinheiro através de cartões de crédito, empréstimos bancários, alienação de bens e venda de artigos pessoais ou bens de família, bem como através prestamistas ou de familiares e pessoas amigas;

> As contas por pagar começam a acumular-se, os pagamentos estão em falta e os credores começam a contactar;

> Os planos de poupança-reforma e os planos de seguros são transformados em dinheiro ou os pagamentos não estão a ser efetuados;

> Os artigos de valor desaparecem e reaparecem;

> O indivíduo aceita trabalhos extra, embora não se veja dinheiro extra;

> Falta sempre dinheiro ao indivíduo;

> O indivíduo engana, mente, ilude e omite para poder jogar ou pagar as suas dívidas, incorrendo até em eventuais práticas ilícitas ou criminosas.

Os problemas inerentes aos jogos e apostas tendem a provocar um impacto forte, quando não devastador, na vida pessoal e familiar. Os familiares podem sentir-se envergonhados, magoados, receosos, irritados, confusos e desconfiados. Tais sentimentos dificultam a resolução dos problemas. O indivíduo jogador pode mesmo negar que exista algum problema.

O isolamento é outro problema:

> Muitos companheiros/as não desejam manter a proximidade física ou emocional com um parceiro/a que lhes provocou danos de diverso tipo.

> Muitos indivíduos atingidos pelo vício do jogo evitam outras pessoas porque se sentem envergonhados, o que torna mais difícil preservar a auto estima, obter amparo emocional e apoio.

> As amizades podem acabar por causa de dívidas por pagar e outros problemas financeiros.

Indícios de ordem emocional

O indivíduo:

> Afasta-se da família e dos amigos;

> Parece ansioso, distante ou tem dificuldade em se concentrar;

> Tem flutuações de humor e acessos súbitos de cólera;

> Por vezes, sente-se bem consigo próprio (se estiver a ganhar);

> Queixa-se de aborrecimento ou impaciência;

> Está deprimido e/ou apresenta tendências suicidas.

O stress causado pelo vício do jogo pode causar problemas de saúde, quer para o indivíduo viciado quer para a sua família. Podem surgir problemas como a ansiedade, a depressão e outros problemas associados com o stress, nomeadamente distúrbios do sono, úlceras, problemas intestinais, dores de cabeça e dores musculares, entre outros.

Esteja atento aos sintomas:

Se tiver alguns dos sintomas indicados a seguir durante mais de duas semanas, e sentir dificuldades na sua vida quotidiana, talvez esteja a passar por uma depressão profunda:

> Perdeu interesse nas atividades habituais.

> Sente-se deprimido, desanimado ou irritável.

> O sono sofreu alterações (p. ex.: tem problemas para adormecer ou em continuar a dormir ou dorme demasiado).

> O apetite sofreu alterações e você emagreceu ou engordou.

> Sente-se desamparado, sem esperança ou desesperado.

> Tem dificuldades de raciocínio e memória e os pensamentos parecem mais lentos.

> Está continuamente a ter sentimentos de culpa e não deixa de pensar em problemas.

> Perdeu o desejo afetivo e sexual.

> Sente-se fisicamente cansado, lento e pesado, ou sente-se agitado e nervoso.

> Pensa em suicídio.

Muitas famílias sob stress têm dificuldade em enfrentar a situação. Um familiar pode tentar manter as coisas sob controlo mediante a aceitação de mais tarefas, o que pode acelerar e conduzir ao desgaste. Os familiares concentram-se frequentemente no indivíduo que tem o problema do vício e esquecem-se de cuidar de si próprios ou de se divertirem.

Quando um dos pais ou prestador de cuidados é atingido pelo jogo problemático, os filhos podem sentir-se esquecidos, deprimidos e irritados ou apresentar outros distúrbios face ao comportamento habitual. Podem até acreditar que são os causadores do problema e que, se forem “bons”, o problema acabará. Alguns filhos cuidam dos irmãos mais novos ou tentam apoiar o familiar que tem o problema. Essa e outras obrigações podem causar-lhe um impacto e consequências assinaláveis, como as que a seguir se descrevem.

Os filhos podem acreditar que têm de defender um dos pais. Podem até perder a confiança num dos pais que faz promessas que não consegue cumprir. Podem também roubar os pais e outros familiares ou subitamente envolverem-se em conflitos na escola ou noutros locais que frequentam.

Outras crianças podem tentar afastar a atenção do pai/mãe que tem o problema:

> Recorrendo a consumos imoderados e aditivos.

> Praticando jogos de azar.

> Envolvendo-se em práticas ilícitas ou criminosas.

É importante ajudar os filhos a perceber que não têm culpa pelos problemas familiares. Eles precisam de voltar a ter uma vida familiar segura e equilibrada e uma infância, adolescência e juventude normal. O aconselhamento individual ou familiar pode ajudá-los a enfrentar tais mudanças

A violência familiar é mais frequente quando a família está em crise. Os problemas resultantes da prática do jogo compulsivo podem conduzir ao abuso físico, psicológico ou emocional contra o companheiro, algum filho ou outro ente que coabite com a família. Os filhos podem sofrer distúrbios e consequências devido à cólera reprimida. Se sente que tal está a acontecer na sua família, procure imediatamente ajuda.

O stress, a ansiedade e a depressão são frequentes, quer para os indivíduos que sofrem do jogo problemático quer para a sua família, interferindo negativamente com o sono, o raciocínio e a capacidade de resolução de problemas.

As taxas de suicídio são mais elevadas para os indivíduos que jogam em excesso e para os seus familiares. Os indivíduos com maiores probabilidades de tentarem o suicídio são os que também sofrem de algum distúrbio de ordem emocional (como a depressão) ou consomem substâncias aditivas. Correm mais perigo os indivíduos que ameaçaram suicidar-se ou causaram danos a si próprios no passado.